23/11/10 - Entrevista Portal Terra Gaúcha em Santa Cruz do Sul

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Entrevista: Marco Aurélio Vasconcellos
Ter, 23 de Novembro de 2010 23:21

Qual foi a sensação de voltar à Santa Cruz do Sul e como foi a receptividade do público?
Foi muito gratificante retornar à Santa Cruz do Sul e cantar para o público da Confraria Nativista. São respeitosos, carinhosos e super atentos. Isso nos motiva a expor o que temos em nosso interior em termos de arte musical. Foi um prazer retornar à cidade e cantar neste lindo evento.

Como foi a concepção do CD Da mesma raíz (Martin César Gonçalves / Paulo Timm / Marco Aurélio Vasconcellos) e a tua participação neste trabalho?
Eu conheço os rapazes (Martin César Gonçalves e Paulo Timm) há quatro anos. De lá para cá, temos feito muitas parcerias. Eu tenho musicado muitas letras deles e do Alessandro Gonçalves também. Eles resolveram fazer um projeto com algumas canções deles e tinham o desejo de vê-las interpretadas por mim. E então quatro delas tiveram participações especiais, como a cantora Maria Conceição, de Santa Vitória do Palmar. O projeto foi adiante, foram encomendados os arranjos pelo pessoal de Pelotas e as gravações foram feitas por lá, no estúdio do amigo Mandeco. De vez em quando, me convocavam para ir colocar a voz. Passava o dia lá e depois voltava à Porto Alegre. Foi muito legal e muito fácil gravar esse CD porque os arranjos estavam feitos e me mandavam. Assim, eu já estudava e quando chegava para gravar era só cantar o que havia ensaiado. Foi muito gratificante e o resultado é um disco excelente, com arranjos fora do comum, instrumentistas de primeira linha do sul do estado. A qualidade destes músicos é algo excepcional.

Antigamente, nos tempos áureos da Califórnia, tínhamos bons músicos mas que não enchiam duas mãos nas contas. Agora temos grandes instrumentistas, que produzem sons limpos, que estudam a música, que tocam com rapidez e perfeição. Temos o Yamandú Costa como referência hoje, mas muitos aqui do estado estão próximos do seu nível. É um privilégio tocar com gente tão boa no costado, como o Egbert Parada e o Éverson Maré, por exemplo. São arranjadores de altíssima qualidade.

E os músicos que estiveram contigo no palco. Faz quanto tempo que eles tocam nas tuas apresentações?
O Gilmar Celau e o Chico Coler, depois que passei a fazer carreira solo, eventualmente os chamo para apresentações e festivais. Nos shows com clássicos do nativismo, tanto músicas minhas como de outros, eles já conhecem e então é só chamá-los e fazer um pequeno ensaio. Para o show de Santa Cruz, nos reunimos em torno de duas horas e na hora, a coisa saí perfeita. O Chico é um amigo desde o tempo do grupo Os Posteiros. Ele está com o grupo desde 1979. Está ativo, continuam tocando depois que saí e o Chico toca com eles ainda. São grandes amigos. O Gilmar eu conheço há cerca de 10 anos e seguidamente fazemos apresentações juntos.

O início foi de que forma? Foi com o nativismo?
Foi por volta de 1960, com música urbana, participei de festivais de música popular chamado Festival Sul Brasileiro da Canção. Através do Luiz Coronel, participei da 2ª Califórnia em Uruguaiana, em 1972, logo no início do movimento nativista. A partir disso, entrei de cabeça no nativismo e sou mais conhecido pelas minhas canções nesse meio, já que caíram no agrado das pessoas como Cordas de Espinho e Gaudêncio Sete Luas, que possuem mais de 20 regravações na voz de diferentes intérpretes. Isso nos enaltece, nos sentimos honrados e me sinto realizado por perceber que as pessoas gostam das minhas músicas e das letras que os poetas me proporcionam para que eu possa musicar. Me sinto plenamente recompensado.Deixei de ir aos festivais porque cansei, mas nunca deixei de fazer as canções e hoje com esses novos parceiros, já tenho cerca de 40 canções inéditas, que dá para fazer mais uns três CDs.

Tem alguma música que é especial para ti?
Tem. Na verdade, quando a gente cria essas canções é como se fossem filhos. Algumas eu até acabo implicando. Mas, desde que eu a criei, uma letra do Luíz Coronel e que é muito triste. Vencedora da 3ª Califórnia em 1973, ela foi muito bem construída e às vezes, sinto que nem fui eu que a fiz. Pela sua construção melódica, ela está além daquilo que tenho conhecimento no violão. Foi uma coisa totalmente empírica, não tinha conhecimento de como fazer os acordes, mas saiu. Se adaptou muito bem e essa canção tem um significado muito especial para mim, não só pela beleza de letra e melodia, é um casamento fantástico. Ela é muito tocante, trata-se de um personagem criado pelo Luíz Coronel chamado Gaudêncio Sete Luas e essa música recebeu o título de Canto de Morte do Gaudêncio Sete Luas, que fala da faca que cai no rio e se transforma em um peixe e tem imagens muito lindas. Enfim, eu adoro essa canção.

Mande um recado aos que admiram o tua musicalidade e a tua pessoa.
Aos leitores do Portal Terra Gaúcha desejo que continuem prestigiando a música nativista. Principalmente quando ela é feita com carinho e com sentimento. E alerto que as coisas do Rio Grande não se resumem apenas ao trabalho no campo, as lides om gado e cavalos. Esse é um ponto que enfatizo: os letristas mais novos estão muito voltados para essas temáticas campesinas. Não é só isso, temos vários problemas para serem abordados e os compositores tem a obrigação de tratar desses assuntos. E eles são muitos. O assoreamento dos rios, as safras frustradas, o problema eterno dos índios que hoje vivem mendigando, o êxodo rural, falta de segurança nas cidades grandes. Muitas pessoas em função disso migram para o campo e se dedicam a um trabalho que não tem conhecimento e se frustram também. Então, essa é a contramão do êxodo rural. Tem muitos temas e os letristas devem se voltar para isso. Não que esses problemas serão resolvidos, mas devem apontá-los para que os políticos resolvam essas questões tão cruciais para o nosso estado.

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