Paisagem Interior: Uma obra-prima, nativa, pura e linda barbaridade!

Comparações sobre uma obra-prima e outra não são necessárias quando se encontra em um cd de festival nativista uma música que revela o sentimento puro de um compositor e a genialidade de um dos maiores cantores que o Rio Grande conhece e há de conviver com ele por muito tempo.

Quando ouvi pela primeira vez a música Paisagem Interior do compositor Martim César Gonçalves na voz inconfundível e belíssima de Marco Aurélio Vasconcellos, o sentimento foi de satisfação plena. Aquela sensação de que nem tudo está perdido, de que a verdadeira arte gaúcha, nativa, vive, se renova e se torna cada vez mais atual e impede, mesmo sem ter essa pretensão, que o mau gosto reine absoluto sobre nossos festivais e principalmente por algumas rádios cujo o único objetivo é comercial.

“Eu tenho em meu gesto o jeito sincero dos meus
A lida, a capina, o abraço apertado do adeus
No olhar a lembrança de um piá pelas tardes
Laranjeiras, saudade... feito um rio que passou”

A estrofe acima remete ao passado e traz um gosto à garganta de fruta madura, de um olhar de avô zeloso, de uma mão amiga do pai, enfim, remete ao melhor da infância, da adolescência e tudo aquilo que nos trouxe até aqui. Feliz daquele que tem essas lembranças.

O grande compositor é aquele que com simplicidade consegue nos emocionar e o grande cantor é aquele que além de nos emocionar faz com que lágrimas até então retidas, saiam em disparada e escorram pelo rosto. O compositor emociona, o cantor maximiza a emoção e os dois juntos tornam a música um momento único, imortal.

A obra Paisagem Interior tem a capacidade de nos prender a ela desde os primeiros acordes. Parece estarmos enredados e que dessa teia não conseguiremos mais sair. A razão é simples, toca o coração, acessa os arquivos mais profundos da memória e transforma emoção em alegria. Tem a capacidade de emocionar até aqueles onde o coração, já calejado pelo tempo, perdeu um pouco o compasso e hoje se vê recluso no dia a dia sem perceber toda a arte que vive e pulsa forte no Rio Grande.

Muito poderia dizer sobre essa obra, mas o que vem a cabeça é simplesmente agradecer pelos momentos que passei hoje ao ouvir Paisagem Interior. E, se os amigos me permitem, sugiro que ao amanhecer, logo depois de cevarem o mate, escutem quietos e serenos e se permitam que o Sr. Martim César e o Sr. Marco Aurélio tornem o dia de cada um de vocês melhor.
Parabéns aos autores e muito obrigado.

Glaucio Lemos Vieira
Rádio Alma Nativa ( www.radioalmanativa.com.br)
Lagoa Vermelha – RS.
24/08/2011

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